Para entender a questão e aproveitar ao máximo nossas bebidas, precisamos considerar três critérios principais: acidez, aroma e complexidade.
Bebidas geladas não irão entregar muito sabor pois temperaturas baixas bloqueiam os aromas e anestesiam nossas papilas gustativas, mas destacarão a acidez.
Por isso, bebidas simples, não complexas, destinadas a refrescar em um dia quente, são apreciadas geladas porque acidez = facilidade de beber.
Uma lager leve não tem muito aroma para se destacar, então pode muito bem ser consumida gelada, entre 2°C e 4°C. Um vinho branco jovem, sem carvalho, trará mais crocância e frescor se servido entre 6°C e 10°C.
Agora, quando se trata de algo mais interessante, não estamos tanto buscando um refresco ou algo para matar a sede, mas sim aroma e sabor.
Cervejas especiais geralmente são melhores quando consumidas acima de 5°C ou 6°C, e é justo dizer que quanto mais maltada a cerveja, mais quente deve ser. Também é uma boa regra basear-se no teor alcoólico (ABV). Uma IPA com 7% ABV poderá ser servida em torno de 7°C, e uma Belgian Quadrupel ou uma doppelbock alemã entre 9°C e 13°C.
Um vinho branco doce, como o Sauterne, exibirá sabores e aromas extravagantes que podem superar temperaturas mais frias e, por isso, não deve ser servido quente, para evitar que se torne enjoativo. Manter o foco na acidez entre 6°C e 8°C parece ser o ponto ideal.
Chardonnays complexos envelhecidos em carvalho e champanhes safrados podem ser extremamente complexos e equilibrados por natureza. Portanto, é melhor apreciá-los levemente mais quentes, em torno de 12°C (observe novamente o alinhamento com o teor alcoólico aqui).
Os vinhos tintos são tradicionalmente servidos à temperatura ambiente. Mas um cômodo medieval francês não tinha a mesma temperatura de um restaurante moderno.
A temperatura influencia a percepção da acidez, dos taninos e do álcool. Uma temperatura mais baixa realça a acidez e os taninos, então entre 12°C-14°C seria recomendado para vinhos leves, frutados e com poucos taninos.
Uma temperatura mais quente seria escolhida para vinhos complexos para garantir que o frio não mascare os sabores e aromas nem intensifique demais os taninos.
No entanto, cuidado ao servir um vinho tinto muito quente, acima de 18°C, pois isso o tornará alcoólico e desequilibrado.
Mas então, um conhaque com 40% ABV deve ser bebido a 40°C? Bem, na verdade, pode ser, e as vezes é! Embora os bebedores modernos tendam a apreciá-lo mais como fariam com um whisky.
E mesmo os apreciadores de whisky costumam desfrutar de seus drams de maneira diferente, dependendo se estão na Escócia, onde o clima não pede gelo, ou nos EUA, onde cubos de gelo são usados em tudo. Mas é justo dizer que cubos de gelo derretem, diluem a bebida e atrapalham na hora de beber, o que, na minha humilde opinião, não proporciona uma boa experiência de degustação. Para realçar aromas e amenizar a queima do álcool, um pouquinho de água gelada pode ser adicionada.
A temperatura de um destilado influenciará a textura da bebida: de viscosa a suave ou de fina a sedosa, favorecendo certos aromas voláteis sobre outros. Portanto, a experiência será diferente e depende da bebida e do que você procura.
Concluímos que a química da temperatura da sua bebida é real e influenciará sua experiência de degustação, mas o que funciona melhor para você é a melhor maneira, independentemente do que o cervejeiro, destilador ou vinicultor disser sobre seu produto.
Quebrar as regras é provavelmente o que nos trouxe os melhores coquetéis e inovações de bebidas, então é sempre bom pensar um pouco fora da caixa e ligar um pouco o F***-se.
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